Era uma vez um rio, um pequeno fiozinho de água que um dia nasceu no pico de uma montanha muito alta. Pois nem bem nasceu, aquele riachinho cismou que queria conhecer o mar. E foi descendo a montanha, curioso com tudo que via pelo caminho. Foi crescendo, ganhando mais água, foi virando um rio de verdade….
Você já reparou em tudo que podemos aprender com as histórias, com os contos tradicionais?
A Lenda das Areias é um conto tradicional que pode ser encontrado no livro “Acordais: Fundamentos teórico-poéticos da arte de contar histórias” (Historias – A Lenda Das Areias – Regina Machado), da professora Regina Machado.
Um recurso muito bom para os comunicadores, no qual ela traz essa ideia de conversar com os contos, sempre buscando um aprendizado, a partir da seguinte pergunta:
O que esse conto traz para mim e o que eu trago para ele?
Além de aprender muito com as histórias, elas podem ser utilizadas para introduzir alguma dinâmica ou ilustrar algum conceito mais difícil de entender, minha avó já usava com muita sabedoria as histórias na educação dos filhos e netos.
O que esse conto traz para mim?
Eu vejo neste conto uma bela metáfora de aprendizado, da forma como aprendemos algo novo, dos desafios do não saber, da necessidade de abertura ao novo, para que o aprendizado e a transformação aconteçam.
Do medo, dos desafios, dos riscos inerentes ao processo e ao final, a satisfação, o encontro, a realização do sonho.
Quem já não teve essa sensação de se lançar nos braços do vento, no desconhecido, ao fazer algo novo?
Às vezes para nós adultos isso parece um pouco difícil, mas preste atenção numa criança, num bebê que começa a andar, ele não sabe como fazer, o corpo pesa, ele vai cambaleando ao soltar da mesa, da cadeira ou das mãos da mãe, dá os primeiros passinhos e cai, esforça-se para levantar, ajeita o corpo e tenta de novo, até que um dia ele sai andando por tudo e não quer mais ficar parado.
Imagine se nós desistíssemos a cada queda, a cada desequilíbrio, a cada erro. O rio quer chegar ao mar, e ao chegar no mar ele percebe tudo que ele pode ser e fazer, como nem sequer imaginava, as possibilidades se abrem, os caminhos tornam-se possíveis, tudo vai tomando forma, fazendo sentido.
Vivenciei esse conto em vários momentos da minha vida, sempre que me sinto desafiada a fazer algo novo, que não sei completamente e isso tem sido bem frequente nos últimos tempos. Vou contar para vocês uma história que ilustra bem esse processo.
Eu não sabia falar Inglês, ou pelo menos achava que não sabia…
Isso já era o bastante para me travar toda vez que eu tinha que conversar com alguém nesta língua, quando surgiu a oportunidade do estágio de doutorado sanduíche nos Estados Unidos eu tinha que aprender e rápido para fazer a prova do TOEFL, um exame que era um dos requisitos para o processo seletivo.
A prova testa as nossas quatro habilidades, essenciais para aprender uma segunda língua: ler, escrever, falar e ouvir. Como tinha pouco tempo, me matriculei num curso com outras pessoas na mesma situação, consultei todos os materiais disponíveis, fiz muitos exercícios, estudei por vários finais 
de semana (o curso era na sexta à noite e eu tinha as manhãs de sábado para estudar), me inscrevi na prova e ….. passei! Lembro bem da cara de espanto do professor quando eu falei que teria que fazer a prova antes mesmo de terminar o curso, antes do final do semestre, por conta do prazo da bolsa de estudos. Mal sabia eu que aquilo era apenas o começo, o desafio de morar fora do país, com a família toda por um ano, realizar todas as entrevistas para a minha pesquisa em Inglês, transcrever todo o material, escrever artigos, relatórios, apresentar os resultados em congressos, dar palestras.
Hoje quando olho para trás, vejo que aquela prova do TOEFL ficou fácil, ou melhor, não foi o mais difícil, foi apenas um degrau para que eu pudesse realizar toda a pesquisa que me trouxe tanta satisfação, para que eu pudesse viver a experiência de morar fora por um ano com toda a família, foi apenas um instrumento para que eu pudesse me comunicar em outra língua, falar com outras pessoas. Uma das experiências marcantes que tive neste período foi a de conversar com pessoas de 72 países, durante um seminário internacional, em que o Inglês era a língua que nos unia naquele processo de aprendizado, um dos mais significativos que vivenciei em toda a minha vida.
Sem falar no aprendizado da família, de morar fora do país com dois filhos pequenos, sem família por perto, superar os desafios, aprender a rir e a chorar juntos, isso foi muito maior do que o aprendizado de uma segunda língua, mas não teria sido possível, ou seria muito mais difícil se eu não tivesse superado aquele primeiro degrau: a prova. Se eu não tivesse virado vapor para então chegar ao mar…
Com certeza Você também tem um exemplo de superação de um desafio que envolve um grande aprendizado, deixe aqui o seu comentário e compartilhe esta experiência marcante.
O que você aprendeu com este desafio?
Para finalizar quero dizer que este conto traz uma riqueza enorme de aprendizados, mas gostaria de destacar aqui os 5 ensinamentos que eu tirei deste processo:
1. Aceite o desafio – arrisque-se a fazer algo que nunca fez, faça o que você não conhece ou pensa que não sabe;
2. Acesse suas lembranças, memórias, vivências, ….”talvez um dia, lá longe, no passado, ele já tivesse virado vapor”;
3. Vire vapor – se lance nos braços do vento, seja transformado pela experiência;
4. Ao chegar ao céu, encontre a sua nuvem, se junte a outras gotículas de água – ache seus parceiros neste caminho, quem tem os mesmos interesses e pode contribuir neste projeto;
5. E, finalmente, Aproveite cada momento, cada sensação, toda a vivência do percurso,…. “ele teve medo, chorou, sorriu…”
E Você já virou vapor hoje?
O que Você aprendeu de novo hoje? Gostou desta história?
Compartilhe seu aprendizado. Deixe aqui o seu comentário.
Um grande abraço
