Como lidar com a indisciplina sem desrespeitar as individualidades de cada aluno, muitas vezes numa sala de aula cheia e ainda escolher a metodologia de ensino mais apropriada para cada aula? Para responder essa pergunta, talvez o melhor seja começar do começo: entendendo como funciona o processo de ensino aprendizagem dos nossos alunos.
O conhecimento é como uma árvore: deve ter raízes firmes para que as folhas e frutos sejam fortes e bonitos, não é mesmo? Mas não estamos esquecendo de aplicar essa regra em nós mesmos? Como queremos lidar com todas as dificuldades que o processo de ensino e aprendizagem acarreta se não soubermos muito bem como esse processo funciona?
Este texto vai te ajudar com essa lacuna. Não deixe isso passar na hora de planejar, executar e avaliar suas aulas. Fique com a gente até o fim e vamos te explicar tudo que você precisa saber para entender o mecanismo que leva uma pessoa a assimilar um conteúdo novo.
Uma vez que você souber como isso funciona, verá que todo o processo de ensino e aprendizagem vai fluir melhor, evitando estresse e frustrações desnecessárias. Pronto para plantar essa árvore e vê-la crescer desde as raízes até as folhas? Então mãos à obra!
Como a inteligência era vista no passado
Nunca é demais lembrar que aquela ideia de inteligência que nossos pais tinham está ultrapassada. Nas salas de aula de vinte ou trinta anos atrás era comum que se considerasse inteligente apenas o aluno com boas notas e que ele fosse colocado como um exemplo a se seguir.
Essa abordagem não é justa com os outros alunos e ainda costuma gerar competição entre eles. Isso isola os que são considerados “bons” do convívio dos restantes, que se sentem injustiçados. Afinal, são sempre comparados com os “gênios” e sempre de forma depreciativa.
Acontece que em 1980 um pesquisador de Harvard e sua equipe puseram um fim nessa forma de pensar. Na época, quando se queria saber se alguém era inteligente ou não, bastava pedir que ele respondesse a um teste de QI.
Com base nesse teste, que avalia a capacidade de se responder a algumas perguntas lógicas em um certo tempo, tinha-se uma resposta para aquela pessoa, se ela era inteligente ou não.
Os pesquisadores de Harvard constataram que não é bem assim que as coisas funcionam. Segundo eles, não se pode afirmar que alguém seja inteligente ou não só porque consegue responder a algumas perguntas rapidamente. Vamos entender isso melhor na prática:
As inteligências são múltiplas
Para entendermos melhor a teoria das inteligências múltiplas, vamos usar um exemplo prático: imagine que você é professor ou professora de matemática e tem 3 alunas, a Joana, a Maria e a Lúcia.
Numa prova de multiplicação a Joana responde a todas as questões muito rápido, entrega a prova e vai embora. Depois você vê que ela acertou todas! A Maria, por sua vez, demora bem mais tempo e entrega a prova quase no final da aula, mas também acerta todas as questões. Já a Lúcia não consegue fazer a prova a tempo e só a entrega quando bate o sinal. Você examina sua prova e vê que, apesar de não ter feito toda a prova no tempo proposto, ela acertou todas as questões que fez.
Então responda a essa pergunta: qual a ordem das alunas mais inteligentes nesse caso?
Deixa eu adivinhar a sua resposta: você colocou a Joana em primeiro (porque ela acertou todas as questões fazendo a prova mais rápido que as outras alunas) a Maria em segundo (afinal, ela demorou para fazer a prova, mas também acertou todas as questões) e a Lúcia, que não conseguiu terminar a prova em terceiro, certo?
Você usou o mesmo critério do teste de QI.
Acontece que algumas coisas não foram levadas em conta na sua avaliação das três alunas. E se a Joana aprende muito bem a multiplicar através do método que você, professor ou professora de matemática usou para ensinar, mas a Maria e a Lúcia nem tanto?
Ou então, você conversa com os professores de Ciências e Literatura e descobre que a Lúcia – aquela que nem mesmo conseguiu terminar a prova – é a melhor aluna da escola nessas duas matérias. Como explicar isso?
A teoria das inteligências múltiplas diz que as pessoas podem aprender melhor ou pior conforme o método de ensino, a área de estudo e, escute essa, podem até mesmo ir mal em provas justamente porque têm um conhecimento muito profundo sobre o assunto da prova.
Pra entender como isso é possível, pense no seguinte: quem vai demorar mais pra explicar como um motor funciona, um admirador de carros ou um engenheiro mecânico? O engenheiro, claro, pois seu entendimento do motor é bem maior!
Outros tipos de inteligência
Além disso, os pesquisadores propuseram que existe uma série de inteligências diferentes, em vez de apenas uma. Cada aluno pode ser bom em uma ou mais delas e pior em outras, sem deixar de ser inteligente por causa disso. Segundo os pesquisadores, estas são as formas de inteligência que eles conseguiram perceber (o que não significa que sejam as únicas que existem):
- Inteligência Linguística: aquele aluno que cria letras de rap engraçadas na hora da aula, improvisando rimas e fazendo os colegas rirem com isso, lembra?
- Inteligência Musical: e aquele outro que já sabe tocar violão e aprendeu sozinho, pesquisando vídeos na internet?
- Inteligência Lógico-matemática: pessoas como a Joana, do exemplo acima, que entendem muito rápido tudo que tem a ver com números e raciocínio dedutivo.
- Inteligência Corporal-sinestésica: aquela criança que desde cedo se destaca na dança ou nos esportes tem seu próprio tipo de inteligência. No fundo, isso não era só “brincadeira”, então.
- Inteligência Intrapessoal: esse tipo de inteligência tem a ver com o autocontrole. Aquele aluno que desde cedo já entende e obedece a todas as regras da escola é um bom exemplo disso.
- Inteligência Interpessoal: o melhor exemplo desta aqui é você mesmo. Professores são ótimos para entender as necessidades das outras pessoas e trabalhar em grupo com elas para que todos saiam ganhando!
- Inteligência Espacial: aquele seu aluno craque do desenho consegue reproduzir tudo com um lápis num espaço reduzido, o papel!
Como a neurociência explica o processo de ensino aprendizagem
A neurociência é a área responsável pelo estudo do cérebro humano. Nos últimos anos ela vem se dedicando a entender como funciona o ensino aprendizagem. Vamos entender melhor as últimas descobertas da neurociência que podem te ajudar a entender seus alunos e melhorar drasticamente as suas aulas:
- A emoção interfere no processo de ensino aprendizagem – os cientistas perceberam, através de experimentos, que aprendemos algo mais fácil se ele despertar alguma forma de emoção em nós.
Isso significa que se uma aula for alegre e bem-humorada e fizer com que o aluno se sinta mais confortável e envolvido, ele irá aprender mais fácil. Outro bom exemplo é a motivação: segundo os cientistas, a motivação é a emoção que mais contribui para o aprendizado. Use isso a seu favor!
- O aluno memoriza melhor quando pode associar o que acabou de aprender com algo que já sabe – sempre que for explicar algo novo para os seus alunos, faça uma comparação ou mesmo aproveite algum conhecimento que ele já tenha.
Crie comparações entre aquele conhecimento novo e alguma coisa do dia a dia do aluno. E, claro, não se esqueça da boa e velha metáfora!
- Tudo que o aluno aprende modifica o seu cérebro – a importância do aprendizado é tanta que novas células cerebrais são criadas quando o aluno aprende algo novo. Além disso, o cérebro se modifica mais rapidamente se você permitir ao aluno um papel ativo no processo de aprendizagem. Vamos aproveitar para falar mais sobre esse assunto:
Aprendizagem ativa
Aprendizagem ativa ou participativa significa dar ao aluno um papel mais importante no processo de ensino aprendizagem. Você já deve ter percebido que a velha forma de ensinar, com os alunos sentados, escutando o que você diz ou copiando do quadro textos enormes não funciona mais.
As novas gerações estão cada dia mais acostumadas a buscar informações (tanto úteis como inúteis) na internet, participar de discussões em redes sociais e aplicativos de bate-papo. Então porque não dar a eles um lugar mais ativo e participativo na busca por conhecimento? E como fazer isso?
Vamos ver alguns exemplos de como você pode transformar a sua aula em uma experiência mais valiosa para os seus alunos, em que eles sentem que contribuem para o próprio aprendizado, em vez de apenas se sentarem, esperando que o conhecimento vá até eles:
- Pergunte antes de ensinar – digamos que você seja professor de português e vá dar uma aula sobre verbos. Não chegue em sala de aula e diga “hoje vamos aprender sobre verbos”. Um pouco de suspense não faz mal a ninguém, certo?
Em vez disso, pergunte para alguns alunos individualmente coisas como o que vão fazer no fim de semana ou o que fizeram no dia anterior à noite antes de dormir. Isso vai aguçar a curiosidade deles sobre o tema daquela aula e prender sua atenção. Além disso, você está fazendo com que eles usem verbos em suas respostas (“ontem dormi mais cedo” ou “vou jogar bola no fim de semana”).
Isso facilita muito a sua explicação, pois quando você definir o que é verbo com um conceito, todos os alunos vão perceber a aplicação desse conceito, que veio ali mesmo, na aula, alguns minutos antes!
- Deixe que eles construam conhecimento conversando entre si – pode parecer estranho, mas estudos mostram que muitas vezes os próprios alunos têm mais facilidade de ensinar alguma coisa uns para os outros do que o próprio professor.
Lembre-se de que seu nível de conhecimento sobre o assunto da aula é tão mais alto que os deles, que muitas vezes você simplesmente não conseguirá entender porque eles apresentam determinadas dificuldades de aprendizado. É o mesmo caso do engenheiro e do apreciador de carros de que falamos acima.
De vez em quando pode ser bom deixar que eles produzam conhecimento sobre o assunto da aula em pequenos grupos (claro que isso vai resultar em uma bagunça maior que o normal, mas é pelo bem do aprendizado deles, não é mesmo?). Você, como professor, pode dirigir as discussões, para que eles tirem o melhor disso tudo.
- Use jogos educativos – você já percebeu que a nova geração parece já nascer com seus smartphones na mão, não é mesmo? Internet e jogos eletrônicos são coisas muito familiares para eles. Tire proveito disso e use jogos eletrônicos no processo de aprendizagem!
Se a escola em que você trabalha ainda não disponibiliza os computadores ou tablets para isso, dê os desafios para que os alunos façam em casa (enviando links para eles) e crie um ranking com os pontos de cada um!
Ensino aprendizagem por projetos: entenda como funciona
Talvez você já esteja familiarizado com a aprendizagem por projetos. É uma das formas de desenvolver a autonomia e a independência nos alunos. Basicamente, eles devem fazer uma pesquisa sobre um determinado tema, desenvolver o conhecimento que adquiriram e apresentar um projeto final onde tudo que aprenderam é demonstrado.
O que às vezes passa despercebido é o papel do estudante não apenas na execução do projeto, mas também em fases anteriores.
O projeto irá funcionar muito melhor se você ouvir as necessidades de aprendizado dos seus alunos na hora de criar um programa para o projeto que eles vão apresentar.
Dê a eles a oportunidade de opinar no momento de criar as regras do projeto pedagógico! Fale sobre isso com a sua coordenadora.
Pense bem: fazendo isso você estará utilizando todas as descobertas da neurociência a seu favor: estará colocando a emoção dos alunos no aprendizado, já que eles estarão envolvidos e motivados pelo fato de terem participado da criação das normas dos próprios projetos que vão criar. Também estará dando a oportunidade de eles colocarem a própria vivência no projeto que eles ajudaram a criar. Por último, dará a eles a oportunidade de participar ativamente do processo de ensino aprendizagem, o que, como vimos, modifica o cérebro deles de forma mais eficaz.
Como você deve ter notado ao longo desse texto, entender o processo de ensino aprendizagem, isto é, a forma como nossos alunos aprendem, ajuda e muito a transformar nossa forma de ensinar em algo mais efetivo.
A chave, nunca é demais repetir, é colocar o aluno como atuante no seu próprio aprendizado, estimulando-o, desde pequeno, a ter autonomia e espírito crítico.
Agora que você está por dentro do processo de ensino aprendizagem dos seus alunos e sabe tudo sobre como eles aprendem, que tal deixar seu comentário aqui embaixo? Conta pra gente se conseguimos te ajudar a fazer da sua sala de aula um lugar melhor!
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Gostei das informações dada e que possamos refletir mais sobre o nosso dia dia em sala de aula.parabéns
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Que bom Silvana, inscreva-se na nossa lista para receber mais novidades. um grande abraço, Marô
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Muito interessante a matéria, gostei da diversidade de temas co-relacionados.
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Que bom que você gostou Claudia! Deixe seu e-mail para receber as novidades que publicamos. um grande abraço, Marô
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Oi gostei gostei tanto nem sei o que dizer.
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Gostei muito deste tema e de suas informações.Foi muito significativo para meu trabalho diário.Que possamos tornar o aprendizado de nossos alunos mais prazeroso e atraente.
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Eu achei muito interessante, aplicar as aulas estimulando os alunos suas emoções, trazendo um bem estar satisfatório para todos envolvidos.