Hoje vou falar aqui da Tamara Azevedo, uma Anfitriã profissional, uma das pessoas que trouxe o Art of Hosting para o Brasil, uma amiga querida, uma pessoa muito especial que eu tive o prazer de conversar e que foi demitida por usar o Open Space.
Nesta conversa abordamos 3 tópicos:
- Possibilidades de trabalho como Anfitriã Profissional no Brasil
2. O Art of Hosting no Brasil
3. O poder destas ferramentas de Inovação
A entrevista começa com uma pergunta para entender melhor como ela se tornou uma Anfitriã profissional, mesmo tendo começado a carreira como bióloga e bioquímica, no sentido de saber um pouco mais da história dos anfitriões para descobrir em suas trajetórias, os principais aprendizados, os pontos de virada, os casos de sucesso e, claro os desafios desta prática.
Tamara começa dizendo:
Eu tive um presente na vida de ter no segundo grau caído numa escola que punha na frente os elementos relacionais e de raciocínio em detrimento dos conteúdos, em que as articulações coletivas eram muito importantes, então se as pessoas me perguntarem qual foi a primeira vez que eu vi Art of Hosting eu diria que foi lá, ou até talvez quando criança em alguns episódios familiares, mas o fato de eu ter tido esta EXPERIÊNCIA NESTA ESCOLA, ligou uma chave que hoje a gente chama de PROPÓSITO, que é essa coisa da gente pensar no que a gente faz , no sentido de qual é a consequência do que a gente faz numa esfera maior, isso depois você pode dar o nome de sustentabilidade, pensamento sistêmico, do que você quiser, mas é essa ideia de que o que eu faço aqui tem um impacto, de fazer as coisas pensando mais nos coletivos, um certo senso de responsabilidade individual por coisas que não são tão individuais assim….
Uma Pesquisadora, bioquímica na USP e Professora de 2o Grau que foi achada por uma equipe de Headhunters para uma vaga na Natura na área de treinamento….
“Vou ficar por um tempo e ver o que dá, afinal não me vejo trabalhando numa empresa de cosméticos, sendo que nem baton eu uso…..”
A empresa estava trabalhando muito com as ações de sustentabilidade que acabaram virando uma marca e Tamara passou por várias áreas até que ficou responsável pela Estruturação dos Treinamentos para os funcionários em todos os níveis desde o chão de fábrica. Trabalhou em projetos de Engajamento e Mobilização Coletiva.
Eu comecei a ligar uma CHAVE….
Muito do que Não Acontece não é por falta de Informação ou Conhecimento, mas SIM porque as pessoas não tem ENGAJAMENTO, Mobilização Coletiva.
A nossa formação é mais individualista e trabalhando com sustentabilidade isso é muito nítido porque as soluções que precisam ser encontradas são soluções em campos muito desconhecidos e em esferas muito complexas e aí não adianta, um sozinho NÃO tem a resposta….
Os processos travavam por causa disso, mas nos treinamentos a gente conseguia espaços qualificados de reflexão, de conversa, então a relação começou a ficar um pouco esquizofrênica…
E nessa época eu fiquei CURIOSA em saber o que as outras organizações, consideradas de vanguarda estavam fazendo…e acabei conhecendo pessoas do Banco Real, que na época conduziam as Oficinas de Sustentabilidade que a Rachel criou inclusive (aguarde em breve teremos uma entrevista com Rachel Stefanutto) e eu me lembro de ter participado de uma oficina dessas e ter ficado ENCANTADA com a FORMA que nada mais era do que Art of Hosting aplicado e eu fiquei com isso na cabeça….
2. O Art of Hosting no Brasil
E então eu recebi um CONVITE para um treinamento do Art of Hosting, eu tinha muito trabalho, não sabia bem o que era, mas o convite foi tão convidativo…..que eu fui….A Arte de CONVIDAR…
Eu encontrei um Círculo de pessoas INCRÍVEL…..As pessoas foram se reconhecer no Art of Hosting…Isso foi em abril/2006…
Muitas coisas que eu já tinha feito estavam lá com nome e sobrenome, então é muito mais se reconhecer na Tribo do que descobrir uma Coisa NOVA…
Então o Art of Hosting dá nome e sobrenome pra um monte de coisas malucas que a gente já fazia sem muita licença dos espaços convencionais…
Em relação com as comunidades e parceiros da empresa, eu comecei a ser muito desafiada…peguei um projeto para experimentar, aplicar Art of Hosting no processo e eu resolvi trazer uma outra forma de cuidar do grupo, do processo, mudar o sistema operacional e não mudar o grupo – MUDAR O JEITO DE FAZER….continuando com as mesmas pessoas na equipe.
E isso fez toda a DIFERENÇA! Conseguimos MUITO mais ENGAJAMENTO!!!
Nesta época começam a nascer as organizações que respiram Art of Hosting no seu trabalho: são duas possibilidades:
- Você levar o Art of Hosting para a sua organização em que você já é o gestor, como o Phil Cass fez (Columbus, Ohio)
- A gente fazer o Nosso Trabalho nascer disso (O caso do Conversa em Ação), pessoas que falam “Quero trabalhar com isso”, são as consultorias – Cocriar, Circulah, Iandê. Na Cocriar a gente utiliza os princípios da Arte de Anfitriar nos processos de gestão da organização.
Art of Hosting não é só o treinamento, mas sim um Jeito de Ser na sua vida, no seu trabalho, e o propósito é fomentar a PRÁTICA.
No Brasil já houve em torno de 20 treinamentos, destes há algumas pessoas que pegam pra si o Chamado e continuam trabalhando nisso. Mas é difícil controlar a reverberação.
3. O poder destas ferramentas de Inovação
Trata-se de uma ferramenta Poderosíssima para re-significar a forma como o ser humano se relaciona em coletivo pra resolver coisas da sociedade em geral e para isso precisamos de uma transformação pessoal também.
Tem uma história engraçada: Eu fui demitida de uma Escola por usar Open Space, eu falava assim pros alunos de 15, 16 anos Você assiste aula se quiser eu dou presença pra todo mundo, não vou ficar reprovando ninguém por falta porque não é isso que faz as pessoas aprenderem…é a Lei dos Dois Pés….(em breve teremos mais conteúdo sobre Open Space).
O bacana é Você ir trabalhando com esses processos, que muitas vezes envolvem questões internas da organização e da equipe e depois de muito tempo você conseguir FACILITAR uma conversa na qual você PEGA O NÓ, o DESAFIO principal e então VOCÊ DERRETE o NÓ, você não quebra, e isso tem repercussões muito positivas na organização.
Outra história foi um processo de mobilização de comunidades do entorno que envolvia diversos atores, num projeto de Educação Ambiental e tinha muito CONFLITO VELADO que a gente descobriu nas entrevistas-diálogo (em breve colocaremos mais informações sobre isso) que nós fizemos antes do workshop com os 80 participantes. E tinha tanto conflito que havia atores sociais que o patrocinador do projeto nem queria que fosse e no fim eles foram e tiveram uma boa contribuição, porque o método dá conta, consegue incluir todas as vozes.
Em qualquer caso de conflito, o Art of Hosting só serve se as partes envolvidas QUISEREM se Engajar na construção ou na RE-construção, se os envolvidos não estão interessados, você NÃO FORÇA NINGUÉM a NADA! Esse é o LIMITE do jeito Art of Hosting de fazer as coisas: O QUERER. E a questão é COMO engajar as pessoas a QUEREREM.
SER OBSERVADOR
Tamara ressalta que nunca é demais a nossa predisposição para sermos observadores, a gente tende a tirar conclusões precipitadas com pouca observação e acaba agindo errado. E esse é um risco que um Facilitador experiente corre, o de parar de OBSERVAR.
Observadores eficientes são Facilitadores (Anfitriões) MAIS EFICIENTES.
DAR OUVIDOS AO OPONENTE
As histórias bem sucedidas de transformação de conflito acontecem quando a gente consegue instalar um sistema em que os oponentes se escutam de fato! E por isso a entrevista-diálogo é importante porque é ali que você já começa a escuta.
É a ARTE DO CONVITE, NÃO É CONVOCATÓRIA.
Quanto mais ferramentas Você souber e Aprender em relação a formas de facilitar o CONVÍVIO entre as pessoas, MELHOR.
É importante também reconhecer os limites de cada ferramenta.
O mais importante é a ESSÊNCIA VIVIDA!
É preciso existir um Propósito Comum Possível no contexto.
No sistema é preciso ter 3 componentes:
- Conhecimento
- Poder de Decisão
- Relacionamento
O Art of Hosting opera na parte das relações, da construção dos relacionamentos, mas é preciso ter os outros dois sempre!
E VOCÊ tem alguma história de Sucesso de facilitação de processos? Compartilhe com a gente!
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Para saber Mais:
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