Será que é possível vencer a indisciplina com ….. Diálogo, usando assembleias escolares na sala de aula ?
Você deve estar se perguntando se algo tão simples e tão essencial ao ser humano pode ser a chave para resolver um dos principais problemas da sala de aula: a indisciplina dos alunos.
Você deve também estar desconfiado se a solução para este problema pode ser algo tão simples e tão óbvio.
Pois então continue a ler este texto e saiba como a professora Debora Sacilotto conseguiu resolver o problema de comportamento dos alunos e ainda conseguiu envolvê-los como parceiros na gestão da escola. Debora foi a vencedora do Prêmio Educador Nota 10, na categoria Gestão em 2012, com o projeto A vez e a voz dos alunos.
Chega de mandar os alunos para a Diretoria! Resolva os conflitos na SUA sala de aula.
Conheça aqui a história da Professora Debora Sacilotto, da EMEF Francisco Cardona de Artur Nogueira, SP que desenvolveu um projeto de diálogo para trabalhar as habilidades sociais como ensinar a ouvir, a entender o outro integrando professores, alunos e funcionários, pensando a escola como um todo! Por esse projeto, Debora ganhou o Prêmio Educador Nota 10, da Fundação Victor Civita em 2012.
Era o meu primeiro ano na escola, já estava há 10 anos na direção, sou professora há 21 anos da rede municipal, mas em 2011 cheguei na Escola Francisco Cardona e me deparei com um grande desafio: A gente não conseguia trabalhar!
Ao assumir a direção da escola, Debora encontrou o problema da Indisciplina. A coordenação e a direção perdiam muito tempo do seu dia resolvendo questões dos alunos, inspetores e professores que poderiam ser resolvidas em sala de aula.
Problemas de comportamento, regras que não estavam claras ou até mesmo conflitos que precisavam ser trabalhados dentro da sala de aula. Afinal ouve-se muito dos professores que a família não educa as crianças, mas é na escola que surgem os conflitos, nas interações dos alunos, portanto é essencial aprender a lidar com os conflitos.
É DEVER DA ESCOLA TRABALHAR AS HABILIDADES SOCIAIS, O DIÁLOGO: OUVIR O OUTRO, ENTENDER O OUTRO
Quando as crianças chegavam à diretoria, eles começavam a conversar:
– Eu fiz isso porque ele xingou a minha mãe – pois é não é aceitável xingar a mãe
– O que mais a gente podia fazer?
Debora conversava com as crianças, mas não via muito efeito porque o problema já tinha acontecido, havia muita indisciplina, ela adverte:
O LIVRO PRETO ???
Um aluno até perguntou para a diretora se depois que o nome dele entrasse no livro preto, no outro ano ele poderia sair ou continuava? Como fazer para ficar com a ficha limpa de novo??? As regras não eram bem compreendidas pelos alunos, apenas sabiam do que ouviam dizer…
Foi então que Debora resolveu buscar uma solução: Como que a gente pode conversar antes de acontecer o problema? Antes do empurrão, antes da briga acontecer…
Uma professora, Ariane já estava trabalhando com a prática das assembleias em sala de aula, inspirada pelo trabalho do professor Ulisses Araujo, que vê o conflito como parte inerente ao trabalho pedagógico e trabalha com Assembleias escolares como uma forma de promover o diálogo e lidar com os conflitos da escola.
O professor Ulisses Araujo destaca 3 tipos de Assembleias escolares:
- Assembleia de classe (sala de aula) —> Professor — Aluno
- Assembleia docentes —> Coordenador / Diretor — Professores
- Assembleia da escola —> Professores, Funcionários e Alunos
Neste sentido é importante trazer a reflexão para os coordenadores e diretores, que Debora coloca a seguinte questão:
Como posso exigir que os professores ouçam os alunos se eu não estiver ouvindo os professores no trabalho de coordenação e gestão da escola?
A RESISTÊNCIA
Houve muita resistência e muita crítica. Foi preciso aprender a lidar com as críticas, Debora diz que no início não foi fácil, até pensou em desistir, mas logo depois viu que estava no caminho certo, afinal os resultados foram encantadores.
A insegurança é a maior vilã das assembleias
Como venceram os desafios, os medos e as inseguranças de inovar?
Tudo começou com a prática a partir da vivência da professora Ariane em seu estágio numa escola de Campinas, ela vivenciou na prática as assembleias e incorporou a atividade na sua sala de aula. E na coordenação e direção eles já incorporaram na volta do recesso escolar. A partir daí cada professor começou a fazer assembleia na sua sala de aula e a diretora acompanhava, afinal os alunos queriam conversar com ela. Alguns enviavam cartas, eles escolhiam um representante da sala para falar com a diretoria….Foi muito legal, Debora vibra!!!
Debora então pensou: Se isto funciona para crianças de 6 anos, por que não implementamos com o corpo docente, nas nossas reuniões de coordenação. Levou a proposta para um HTPC e começou a implementar. No início não foi fácil. Não é fácil para o professor ouvir críticas e não levar para o lado pessoal, mas com a prática aquilo foi incorporado na rotina da escola. E o melhor, conseguiram ouvir os alunos, os funcionários e pensar na gestão da escola como um todo.
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Criar Um Canal de Comunicação
Os alunos se envolveram tanto que esperavam o dia da Assembleia para colocar a sua sugestão, a sua crítica. Então foram implantando em todas as turmas, alguns professores com mais facilidade, outros nem tanto. Mais por insegurança do que por resistência, Debora ressalta.
A assembleia dos alunos era semanal e a do corpo docente era mensal.
As professoras que conseguiram perceber o quanto os alunos melhoraram com a assembleia, elas levam isso até hoje. Algumas até mudaram de escola e levaram a prática para outras unidades.
Os alunos também entenderam que o diretor não é aquela pessoa que só manda e consegue as coisas, muitos processos como a mudança do cardápio da escola, por exemplo, envolvem outros profissionais como a nutricionista que elabora o cardápio, o setor responsável da prefeitura que organiza uma licitação para a compra dos alimentos e assim por diante. Começaram então a enxergar o invisível, o que está por trás de todo o processo de gestão de uma escola.
2. A Assembleia da sala de aula
Cria-se um momento na sua rotina para uma roda de conversa, em que a turma toda pode partilhar o que estava indo bem e o que não estava indo bem na classe. Com envelopes e cartazes com as frases: Eu critico, Eu sugiro, Eu felicito, os alunos escrevem suas críticas, sugestões e felicitações e uma vez por semana, todos se reúnem para compartilhar o que haviam escrito e encontrar formas de solucionar os problemas.
O Problema do Banheiro: O Banheiro era o Campeão de Críticas
Ao perceberem que eram ouvidos, os alunos se engajaram nas soluções e aquilo virou um hábito. Como no exemplo da limpeza dos banheiros que tentaram de diversas maneiras conscientizar as outras turmas da importância de manutenção da limpeza dos banheiros, uma sala elaborou placas com avisos, a outra sala foi em todas de sala em sala pedindo para que todos utilizassem bem o banheiro, mas sem obter muito sucesso. Até que uma turma de 3º ano teve a ideia:
– E se a gente fizesse um cartaz dando notas para a utilização do banheiro, o pessoal da manhã e da tarde. Quem conseguisse mais pontos, você daria gelatina…porque chocolate não dá, né?
Debora pediu um tempo para verificar a possibilidade, ela precisaria conversar com o pessoal da cozinha e da limpeza: Quem vai fazer o cartaz? Quem vai dar a nota? Será que as cozinheiras conseguem, afinal são 500 crianças, é muita gelatina? E a prefeitura vai poder fornecer? Assim ela mostrou quanta coisa estava envolvida para conseguir viabilizar a sugestão dos alunos. Pediu uma semana de prazo e o combinado foi que a premiação seria mensal, as cozinheiras que disseram que não seria possível ser semanal.
E Você consegue adivinhar o resultado?
Sucesso total!!! Banheiros limpos, a partir da criação de um sistema de monitoramento da qualidade dos banheiros ao longo do dia todo elaborado pelos alunos em parceria com os funcionários. E assim soluções simples foram implementadas em conjunto.
A mesma coisa para o desperdício de alimentos na hora do almoço. A funcionária da cozinha elaborou um quadro com o sinal verde, amarelo e vermelho, de acordo com o peso dos restos de alimento. Assim conseguiram medir e monitorar o sucesso do projeto. Com as cores ficou mais fácil para todos entenderem.
Mas e o Conteúdo?
Imagine quanto conteúdo pode ser trabalhado com um projeto desses? A escola desenvolveu todo um processo de gestão ambiental a partir da redução do desperdício de alimentos. Na hora das refeições, poderiam fazer gráficos para trabalhar Matemática, tratar de questões como fome, desperdício de alimentos, redução, reutilização e reciclagem, enfim uma infinidade de possibilidades.
E os professores aproveitavam os textos que eram colocados nos envelopes pelos alunos para trabalhar a revisão textual, corrigindo e ensinando as regras gramaticais a partir da produção de texto.
Alunos: Parceiros na Gestão da Escola
E de repente o que era apenas um projeto para melhorar o comportamento dos alunos tornou-se um projeto de gestão integrada e participativa da escola, os alunos começaram a apresentar soluções para os problemas que enxergavam na escola, coisas simples como a falta de colchonetes nas aulas de Educação Física ou o desperdício de energia ao notar que as luzes da quadra ficavam acesas quando não estava sendo usada foram resolvidas rapidamente.
Debora ressalta que o mais importante é que cada um dos integrantes da escola foi conseguindo enxergar o outro, desenvolvendo a empatia. Os professores puderam entender melhor as atribuições do diretor e perceber que muitas vezes ele não consegue decidir e mudar tudo sozinho, precisa da prefeitura e dos outros setores envolvidos.
Os alunos ajudaram a gerenciar a escola, algo que normalmente não acontece, porque o diretor ouve os professores e funcionários, mas acaba não chegando nos alunos.
Não é uma varinha mágica! É preciso experimentar, acreditar neste trabalho e ver o resultado.
Na rede de Artur Nogueira existem 8 (oito) EMEFs e 2 (duas) já estão implementando as Assembleias. Agora o objetivo é implementar a técnica como parte do regimento das escolas. Com o reconhecimento que o Prêmio Educador Nota 10 trouxe para Debora, ela foi promovida à coordenação da Secretaria da Educação do município e busca levar o projeto das assembleias para todas as escolas da rede.
É preciso de Formação e de Vontade.
O professor tem que estar preparado para receber as críticas e repensar sua prática, às vezes não é fácil para o professor ouvir uma mensagem do tipo:
Eu critico a professora porque ela chegou de mau-humor , os meninos estavam fazendo bagunça e ela deixou todo mundo sem aula.
Além disso, Debora ressalta que sua relação com os professores também melhorou muito.
Os professores não entendem, não sabem tudo o que o diretor faz, era um momento que eu podia explicar e ajustar o trabalho e criar um vínculo muito forte.
Se não tiver um vínculo muito forte entre o professor e o aluno a aprendizagem não acontece e a indisciplina não diminui.
Para concluir a nossa conversa, se pudesse resumir os aprendizados desta experiência maravilhosa Debora nos diz o seguinte:
3 Lições IMPORTANTES:
- Ninguém sabe nada, a gente precisa do outro para crescer. O gestor precisa de todos, o trabalho é uma doação. É possível fazer muito mais do que o necessário;
- Experimente a Assembleia em sua sala de aula, quando você vir uma criança de 06 anos conseguindo se posicionar, você vai ver que é possível ensinar a dialogar!
- Tenha coragem para mudar, pense que você está nesse mundo para fazer a diferença na vida de alguém. O aluno tem que ser visto como alguém que está lá para aprender a ser gente e nós professores precisamos ajudá-lo neste processo.
A gente tem muitos professores que encantam e a partir do momento que você começa a fazer, você vê que é possível. Uma boa escola é construída por bons profissionais que amam o que escolheram fazer !
Professor você não está sozinho, tem muita gente querendo e fazendo a diferença.
Muito obrigada Professora Debora, foi um prazer conversar com você. É realmente gratificante e emocionante encontrar professores que acreditam no diálogo e que fazem dele uma prática pedagógica, transformando vidas, diminuindo a indisciplina e transformando escolas.
Qualquer dúvida, deixe Aqui seu comentário, sua sugestão.
Para saber mais:
Aprendizados da Prof. Debora Sacilotto: Chega de Mandar os Alunos para a Diretoria
http://https://youtu.be/5CqKVQCdtl8
Artigo Professor Ulisses Araujo
Resolução de indisciplina, conflitos e assembleias escolares, 2008, disponível no link abaixo
https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/caduc/article/viewFile/1743/1623
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Trabalho em uma escola pública que a indiciplina, a falta de respeito pra com o colega (aluno)ou até mesmo com o professor é constante eles são muito indisciplinado como resolver essa questao ,pois estar atrapalhando muito ao aprendizado.
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EXCELENTE INICIATIVA PROFESSORA , MERECE TODO RECONHECIMENTO DE TODOS OS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO. SHOW
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Gostaria de receber o projeto da professora Débora para eu ler e ter ideia de como melhorar a disciplina na sala de aula e consequentemente a aprendizagem. A questão da indisciplina é muito preocupante, pois apesar de fazer o que posso para ajudar aos alunos na questão da aprendizagem percebo que muitos alunos ficam prejudicados pelos que não receberam limites e acham que podem fazer o que quiserem porque não há punição. Muitos deles ao serem advertidos devido a situações de indisciplina dizem: “AH! isso não dá em nada não.
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Após ler tudo fiquei pensando em aplicar em minha turma , pois é muito indisciplinada. Não sou de mandar pra diretoria mas vivo sufocada em não controlar a indisciplina da minha turma.
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Oi. Meu nome é Rosimeiry Ribeiro.
Tenho enfrentado esse problema. Trabalho com duas turmas do 5} ano, com os conteúdos de Língua Portuguesa e Integrados ( História/Geografia).
Durante a troca de turma, percebo que os alunos demoram a entender que ali naquele momento de troca o professor é outro. Situação difícil de contornar. São alunos espertos, inteligentes, questionadores, mas sinto que está faltando responsabilidades e compromisso, em relação a realização das atividades em sala de aula devido a conversa, ficam em pé sem necessidade, incomodam quem tem interesse, além de não trazer prontas as tarefas de casa. Assim, tenho que realizar a correção em sala de aula o que acaba atrasando para a realização do planejamento do dia.
Preciso de uma orientação.
Alguém pode me ajudar?
Desde já agradeço.
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OLÁ!
ACREDITO EM MUDANÇAS COMPORTAMENTAIS ATRAVÉS DA CONVERSA, COMBINADOS, REGRAS FEITAS PELOS PRÓPRIOS SUJEITOS, POIS SÃO MAIS FÁCEIS DE SEREM OBEDECIDAS…E ESTA SUA INICIATIVA PARECE BASTANTE ADEQUADA E PRODUTIVA NESSE SENTIDO!
GOSTARIA DE RECEBER ESTE MATERIAL, UMA VEZ QUE VAI ME AJUDAR BASTANTE NO TRABALHO PEDAGÓGICO COM MEUS ALUNOS.
MUITÍSSIMO GRATA!
DE Leda
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Muito bom, seria um sonho!!! Além da indisciplina dos alunos, lidar com o humor e saúde dos professores hj é mais que um desafio.
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Achei interessante vá ideia, vou iniciar na escola que trabalho, espero ter captado o essencial para ter êxito no trabalho.
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Boa tarde! Sou Orientadora Educacional, e gostaria de implantar o projeto na escola a qual trabalho, e gostaria de saber se é possível obter esse projeto.
Desde já obrigada pela atenção!
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Gostei muito, vou apresentar o seu trabalho para a minha diretora.
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Sou pedagoga de uma escola estadual no município de Atalaia do Norte, e a questão da indisciplina nas salas de aula são constantes e as vezes não e caso de se levar para sala do gestor ou pedagoga, pois existem problemas que podem ser resolvidos em sala de aula mesmo.
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Achei muito interessante a proposta da professora, gostaria de receber o projeto por para aplicá-lo.
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Que bom Maria Claudia Vá no meu canal do Youtube e assista a entrevista completa que fiz com a Professora Debora Sacilotto, ela explica bem os detalhes do projeto. Um grande abraço, Marô
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Bom dia! Você poderia me enviar o projeto escrito , para eu aplicar?
Obrigada.